É PROIBIDO PENSAR
Parece-me que estamos nos vendendo por muito pouco. Sempre nos
entregamos sem pensar duas vezes, mas quase sempre muitos se entregam sem
pensar uma vez sequer. Henry Ford disse: “Pensar é um trabalho pesado demais,
esta talvez seja a razão para tão poucos se dedicarem a ele”. Isto parece mais
verdadeiro a cada dia. Pensar é o alicerce do bem mais intransferível do ser
humano: a liberdade. Thomas Jefferson assim escreveu na Declaração da
Independência dos Estados Unidos: “Consideramos
estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados
iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis (intransferíveis),
que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade”. Porém,
abdicamos desta liberdade ao permitir que os pensamentos e ideias enlatados e
embrulhados nos dogmas, nas filosofias baratas, nas músicas insensatas da moda
ou em quaisquer outras formas que determinam nosso julgamento pessoal. Estas
formas se tornam opressoras, e estão presentes na política, na religião, na
mídia, na arte, nos indivíduos de personalidades influentes, e acabam
determinando nossa atitude passiva e, por fim, nosso conformismo e
cumplicidade.
Lembro-me de uma história da qual não fiz parte, não a conheço
muito bem, e que se processou num contexto muito traumático na história do
nosso país: a época da ditadura. A época do auge da censura, a limitação da
liberdade, do pensamento e de sua expressão. Censuras, acusações, prisões,
exílios, torturas e mortes por meio de uma política opressora tentou se impor
para dominar sobre as pessoas impedindo-as de expor seus pensamentos por meio
da arte em suas várias formas. Mas, como se diz, a ideia é a força mais
poderosa que existe, e, por ela vale muito sacrifício. Se for crime impedirem a
nossa liberdade de pensar, não é menos criminoso dispensá-la por formas menos
ou não violentas, mas igualmente opressoras. Ninguém tem o direito de dizer o
em que devemos pensar e fazer os julgamentos que cabem a cada um de nós. Nem os
líderes políticos, nem os religiosos, nem os civis, nem os familiares, etc.
Não posso
deixar de lembrar de um trecho de uma música que foi muito importante para este
período difícil do nosso país (da ditadura): “Vem vamos embora que esperar não é
saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer”. Esperar é conformar-se com os modelos, dogmas,
políticas, etc., impostos sem questionamentos; é não dedicar-se ao peso do
trabalho de pensar, e deixar que outros façam isto por nós, e determinem nossas
vidas, crenças, condutas, gostos. É a cultura da falta de cultura por falta do
saber; a cultura da ignorância. Contudo, não nos tornemos culpados de
transferir o nosso direito à liberdade de pensar para outros, para que sejamos
sábios construtores de uma cultura inteligente e não omissa. Deixar os outros
fazerem isto e esperar os resultados? Quem sabe faz a hora, não espera
acontecer.
Este texto foi publicado, primeiramente, num outro blog meu e que agora está
inativo.